Eleita destaque cultural do ano pelo júri do Prêmio Governador do Estado para a Cultura 2017, a gravurista carioca Renina Katz, 91 anos, é uma das artistas protagonistas da série Arte de Bolso da Editora Lazuli, agora em versão digital.
Nesta edição, a autora e jornalista Elaine Bittencourt leva a público uma entrevista feita com Renina Katz, além de gravuras e um recorte cronológico da vida/obra desta que é um dos maiores nomes da gravura no país. Ou melhor, “uma artista mutante”, como descreve a autora.
“São tantas as vertentes de sua vasta produção que só assim parece ser possível defini-la. Há, porém, ao menos um ponto em comum em toda a sua obra, característica louvada pelos críticos desde o início de sua carreira, que já dura 60 anos: o grande apuro técnico, adquirido numa época em que a ambição de ser artista era acompanhada pelo desejo de uma formação rigorosa, moldada ainda por cânones clássicos”, destacou Elaine Bittencourt.
Especializada no segmento de artes plásticas, a autora já trabalhou no jornal Gazeta Mercantil, onde escrevia semanalmente sobre artes, além de ter exercido a função de editora do suplemento cultural Caderno Fim de Semana.
LEIA UM TRECHO DO LIVRO…
Nos anos 1940, quando você iniciou sua carreira, a profissão de artista ainda era bastante marginalizada. Sua família fez oposição à sua escolha?
Não. Minha família pode ser considerada meio especial. Minha mãe gostava muito de ler, gostava muito de música. Vários primos meus se dedicaram à música. O incentivo para qualquer atividade artística era bem grande. Eu até me lembro que meu irmão disse que queria tocar piano, e minha mãe logo quis sair para comprar um. Mas meu pai falou: “Espere, quem sabe na semana que vem ele quer jogar futebol?”. E, de fato, foi o que aconteceu. Então, não havia nenhuma restrição. A única coisa que ocorreu é que, quando eu decidi prestar o vestibular, meu pai disse assim: “Você arrumou a melhor profissão para passar fome, mas se você quer, tudo bem”. Não passei fome. Passei aperto, mas não passei fome.Alguma vez sentiu-se discriminada?
Eu estudei na então Escola Nacional de Belas Artes, da Universidade do Brasil, que funcionava junto da Faculdade de Arquitetura, frequentada por um número maior de rapazes do que moças. Mas a convivência era paritária, não havia realmente nenhum tipo de discriminação. Inclusive, na época, o movimento estudantil estava começando a ferver, e eu fui representante da minha escola na UNE, no DCE, na União Metropolitana dos ENTREVISTA 14 ARTE DE BOLSO Estudantes, e nunca sofri nenhuma discriminação. Ao contrário, eu era até protegida. Quando as reuniões demoravam muito, sempre havia alguém para me acompanhar até em casa. As relações eram muito cordiais.
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